quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

NO MODO VIRTUAL ou, A FAKERIZAÇÃO

 
NO MODO VIRTUAL ou, A FAKERIZAÇÃO
por Pietro Nardella-Dellova


Por onde andam os sentidos efetivos e as experiências epiteliais? Por onde andam os risos de doer o abdômen? Por onde andam os debates em que se olha no olho e a exposição não escapa aos limites do encontro, da dialética e da comunhão? Por onde andam os gostos de fazer escorrer suco pelo queixo e mel pelos cantos da boca? E por onde andam as oscilações naturais dos humores e das percepções espontâneas? Por onde andam mulheres e homens reais na era da virtualização?

Trocaram-se os bancos pelas cadeiras sofisticadas (duas vezes sofisticadas em seu sentido etimológico) e os seres humanos se apresentam diante de imagens montadas em qualquer canto. As imagens de criação multifacetada – e sem limites, substituíram a pele e a lágrima, o sorriso e as nuances faciais. Presos, então, ao computer e conectados diuturnamente, homens e mulheres perderam a relação de humanidade e, agora, não têm a capacidade de processar os encontros e suas variáveis, não enxergam e não vêem, sobretudo, não percebem e não atuam. As imagens se oferecem aos milhares, fakes escondem abismos inimagináveis e noctívagos perdem o sono e desmaiam no espasmo, cada vez mais afastados de parte de sua salvação: o “eu”! Exatamente isto: o “eu” é uma parte da salvação - o "tu", a outra!

E porque se perdeu o “eu”, perdeu-se, também, o “tu”: eis o deserto da solidão! As pessoas (reais) estão ficando solitárias, demasiadamente solitárias, e imagens sem dor nem sabor, sem amor nem ódio, vão se reproduzindo aos milhares.

O mundo virtual tornou-se o modelo, o exemplo, a aparência de verniz e, atualmente, define um modo, um “ethos”, ou seja, o “modo virtual” de viver. Os virtuais (ou fakes) juram amor uns pelos outros nos vários meios e sites de relacionamento, mas, sabem mesmo o que é o amar? Sabem transitar sobre a pele do “tu”, sabem quais são as reações plurais de cada poro e o arrepio da penugem? Sabem as diferenças entre um gosto e outro, entre um perfume e outro? Sabem mesmo o que significam pupilas e lábios dilatados? Sabem lidar com as diferentes temperaturas emocionais do outro – este não “tu” – e processar a diferença em termos reais? Chega, então, um tempo de saudade do outro, o inferno de Sartre, que, embora não fosse um “tu”, realizava a grande obra das diferenças, das tensões evolutivas, da dialética produtiva e reprodutiva – o outro fazia avançar!

Agora, nem o “outro” dialético, a quem se podia matar ou diante de quem se morria ou, simplesmente, com quem se construía uma coexistência juridicamente suportável, nem o “tu” dialógico, a quem se podia levar para a cama ou à mesa, com quem se construía uma convivência poeticamente substancial. Nem o “outro” nem o “tu”, apenas o virtualmente deletável – o fakerizado! Mais que isto, ainda, o modo virtual determina uma falsa percepção – a fakerização que resulta, por sua vez, em ações unilateralmente virtuais – o estado de tristeza e esvaziamento!

O esvaziamento da mente fakerizada de quem, conectado durante o dia (e a noite) vai se transformando em nada e perdendo a sensibilidade com o mundo em redor, imaginando projetos absurdamente inexeqüíveis, preparando discursos e aulas de cocô com talquinho perfumado do PowerPoint, buscando respostas inseridas no kaos virtual, jurando paixões à tela e gemendo noite adentro. Tudo isso conduz, invariavelmente, a um comportamento vazio de sentido. Não a um comportamento mau ou bom, por princípio, mas a um comportamento que, vazio ou esvaziado de sentido, resulta em algo apenas mau – o mau, então, por resultado!

E este resultado mau, criado na virtualização do mundo, evolui para um ethos de perversidade e timidez. Ou seja, diante da imagem e da idéia criada e mantida pelos meios virtuais, do esvaziamento de sentidos e perda das relações efetivas, escreve-se o que se quer, produz-se o que se quer, transmite-se o que se quer, diz-se o que se quer, faz-se o que se quer. Mas, no encontro direto e pessoal, o que se escreve não encarna, o que se produz não se concretiza, o que se transmite é irreal e dissociado da experiência humana, o que se diz não se confirma e, por desgraça, o que se faz não se expressa no corpo presente!

É o momento da completa idiotização ou, em outras palavras, o momento do esvaziamento ou da fakerização do mundo, e por mais que se venda outra coisa com aparência de bom, ainda assim, é uma coisa vazia, em um ciclo fake-faker-fake – o falso, o falsificador e este mesmo, o falso!

Va bene, eu desço, avanço e explico um pouco mais!

A relação fake-faker-fake desenvolveu um comportamento feudal de opressão e domínio, com intensa perversidade religiosa, seja pelo desdobramento do pensamento agostiniano ou das variáveis luteranas (no conjunto, uns e outros, são a mesma coisa, criada em Nicéia!). É um modo fakerizado de ver o mundo, ou seja, dualista, maniqueísta e eclesial, cujo atraso e desvirtuamentos exigem dez mil anos de purificação! O “deus” e o “diabo” medievais, bem como, anjos e demônios, santos e santinhas, virgens grávidas e deuses encarnados, resultam do fake-faker-fake! Até aí, nada de mais, exceto pelas mulheres e homens que foram mortos no óleo fervente ou em fogueiras juninas, e pelos seres humanos cortados ao meio, arrastados exemplarmente pelas vias públicas ou, simplesmente, condenados e esquecidos em buracos sob igrejas e castelos. E, mais efetivamente, pela construção nos púlpitos e preces católicas e protestantes, dos fornos que destruíram dez milhões de pessoas sob os coturnos nazistas em campos de concentração, e outros quarenta milhões no front, mas, sempre, com as bênçãos de um grupamento insano!

A relação fake-faker-fake criou, também, o comportamento stalinista (bem distante de suas bases marxistas) desnudado pela Perestróika e, finalmente, implodido. Criou, ainda, e com perversidade excludente, o mundo econômico cocacolizado da bolha financeira – explodido pouco tempo faz, cujo pesado efeito perdurará por décadas.

Assim como nos exemplos expressivos da Idade Média, da Inquisição (ou Inquisições), dos Juízos de “deus” (e do diabo), do Holocausto – situações criadas e desenvolvidas pela visão falsificada de mundo (fake), bem como, do status econômico e financeiro, stalinista e americano, atualmente, vê-se o esvaziamento por conta do mesmo processo de fakerização agravado com o poder da virtualização. Pior que um inimigo real é um fake! Pois, o inimigo é mantido a uma relativa distância, mas o fake não, e, pior, a relação virtual que alimenta os fakes, é incontrolavelmente imperceptível.

Enquanto isso, o mundo vai se transformando em uma grande privada não virtual, em uma lixeira não virtual, em um depósito de seres humanos não virtuais e em um gemido não virtual – tudo em um processo centrífugo em que nada escapa, a não ser que se escute um grito, que se faça um corte e que se acorde depois desta noite!

5 de julho de 2010

© Pietro Nardella-Dellova é Escritor, Poeta e Professor. Coordena Curso de Ciências Jurídicas e Sociais, leciona Direito Civil e Crítica Literária em graduação e pós-graduação. Mestre em Direito pela USP e Mestre em CRe pela PUC/SP. Pós-graduado em Direito Civil e em Literatura. Formado em Direito e em Filosofia. Mestre na Sinagoga Scuola. Membro da UBE – U. B. Escritores. Escreve em várias revistas e jornais. Autor dos livros AMO (89), NO PEITO (89), ADSUM (92), FIO DE ARIADNE (org/texto 94), A PALAVRA COMO CONSTRUÇÃO DO SAGRADO (98), A CRISE SACRIFICIAL DO DIREITO (2001) e, agora, A MORTE DO POETA NOS PENHASCOS E OUTROS MONÓLOGOS. SP: Ed. Scortecci, 2009. Outros textos, contato e informações vejam em seu Blog Café & Direito: http://nardelladellova.blogspot.com/

 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010


   
Em dado momento queremos que tudo seja perfeito e a vida não é assim. Não podemos ter um desejo auto centrado e unilateral porque geralmente geram graves efeitos. Eu acredito que nas relações humanas o amor, a bondade, o calor, a afeição, a comunicação e o altruímos tornam nossa vida mais saudável e leve. Estes sentimentos que na maioria das vezes consideramos como fraqueza e hipocrisia, na realidade é do que precisamos.

Muitas vezes fomos feridos pela vida e por pessoas que acreditavamos nos amar e fica difícil não cultivar desconfiança e dureza com relação a todas as pessoas. E estamos aqui para aprender uns com os outros, tentando respeitar ao máximo individualidades e crenças.

Nestes momentos é tempo de reprogramação e renovação. Tirar proveito das lições

E questionar o que é perda? O que é ganho? O que é sucesso?

Se fomos  programados para ter certas sensações e lidar sem maturidade com situações, podemos mudar nossos conceitos e nos reprogramar para entendermos as pessoas e as relações que temos.

E existe aquele dia que da pane geral no sistema, aparecendo nossos vícios emocionais, medos internos e crenças limitantes. É justamente quando nos damos conta de que aquela programação não  serve mais para nossa vida adulta.

Ficamos meio que entre a cruz e a espada, porque precisamos escolher entre o conforto de continuarmos a ser quem somos, apenas uma máscara forjada para o mundo, um eu idealizado e artificial ou com paciência, perdão e auto-compreensão encarar este nosso lado "feio", onde agimos como criança querendo ser exclusivos em qualquer situação. Não satisfeito este amor imaturo nos sentimos rejeitados e excluidos, responsabilizando o outro por nossa infelicidade.

Nesta hora precisamos rever e romper com nossas crenças, sem nos sentir envergonhados, enfrentamos nossa ignorância, egoísmo e imaturidade. Com consciência rompendo círculos viciosos, trabalhando ponto a ponto, ouvindo a voz da sabedoria interior que nos orienta.

Quando violamos a Lei Divina com nossas reações a consciência divina nos conduz de volta ao equilíbrio e a ordem.

Na realidade, a autoconfiança saudável e independência sadia nos permite alcançar o máximo de felicidade através do desenvolvimento dos nossos talentos inerentes, levando uma vida construtiva e cultivando relações humanas mais produtivas.


~Myriam Valentina~


Tem vezes que nossa alma faz tanto barulho que esquecemos quem somos.
Vivemos desejando, querendo tanta coisa que não nos damos conta do que temos.
Calar nosso pensamentos num momento em que sabemos que nossos sonhos foram apagados sem deixar rastros.
Nestas horas só nos resta ceder a sabedoria da vida e aceitar que nada podemos fazer.
Atrelados ao futuro como uma direção que devemos seguir, esquecemos o presente que nos escapa.
Seguimos buscando sempre algo novo, diferente, como uma concepção de como deveria ser o futuro.
Um futuro que nunca chega, nunca está presente.
Carregamos pedra acima como um objetivo a ser alcançado, sem entender a importância do caminho.
Iludidos, talves tolos, por acreditar que a misericórdia está em realizarmos desejos.
Entre mentiras e ilusões perseguimos o sucesso como uma marca a ser alcançada;
E quando atingimos o próposito ou objetivo a vida perde o sentido.
Quando estamos sozinho impressados e frágeis, nos momentos mais aterradores, não conseguimos nos lembrar de nós mesmos, apenas do que está acontecendo.
E nestes momentos decisivos, precisamos não esquecer do porquê nascemos, do valor que temos e que valeu a pena para o universo ter nos criado.

~Myriam Valentina~

Pegue um raio de sol e faça-o voar lá onde reina a noite.

Descubra uma fonte e faça banhar-se quem vive no lodo.

Pegue uma lágrima e ponha-a no rosto de quem jamais chorou.

Pegue a coragem e ponha-a no ânimo de quem não sabe lutar.

...Descubra a vida e narre-a a quem não sabe entendê-la.

Pegue a esperança e viva na sua luz.

Pegue a bondade e doe-a a quem não sabe doar.

Descubra o amor e faça-o conhecer ao mundo.



(Mahatma Gandhi)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Decisões de uma vida

 
 decisões de uma vida ……..
até quando
sim até quando teremos de dar nossa visão pra poder corrigir
a que um dia suprimimos de alguém …
até quando teremos de esperar a dor chegar …
somente porque queremos provar e
aprovar determinada situação …
por achar que temos o direito de aprender,
não importando se havemos ou haveremos de magoar a outrem
só por causa disso …
quantas vidas destruiremos só por achar que temos
sim temos o direito à tão sonhada felicidades
e só a nossa imediata, sim imediata satisfação
é o que importa o que realmente importa …
muitas vezes perdemos e perderemos muito da vida
e do que a vida nos reserva somente porque deixamos
sim deixamos de olhar o próximo como devemos e ou deveriamos olhar,
olhar para ele e para nos mesmos …
e assim perdemos e perderemos o padrão
o padrão do que é correto porque alguém disse
que a sua felicidade, sim somente a sua felicidade
vem e devera, sim, vir sempre em primeiro lugar em sua vida …
pena sim, muita pena perdermos e perderemos
essa grande oportunidade de ser e fazer alguém
sim, fazer alguem feliz apenas porque não prestamos
atenção as informações de uma existência, de uma vida,
da história de uma vida …
longe de ser a resposta: longe de ter as resposta
de uma existencia de uma vida
aprendi com Einstein que as respostas já as possuimos,
o que precisamos e precisaremos é aprender
com as perguntas pois elas e que mudam uma vida
uma história de uma vida
uma história de uma existência, porém a decisão do que fazer
é e será sempre sua, pois no final ”você decide” …
sim sempre será a sua decisão que fará a grande diferença pra você
dai então felicidades, ”à tão sonhada liberdade” vos espera ………..
como ”EVA”, sejas liberto e curta essa tão desejada liberdade de atos e ações…
afinal você é quem sempre pagará por seus atos e ações ……..
isso …………
(Autor Desconhecido)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Sonho do Pavilhão Vermelho


«A verdade torna-se ficção quando a ficção é verdadeira. A realidade torna-se irreal se o real é fictício» 
Tsao Hsueh-chin in




"Doçura é a maestria dos sentidos. Olhos que vêem o fundo das coisas... Ouvidos que escutam o coração das coisas... Boca que fala a essência das coisas... Doçura é o resultado de uma longa jornada interior ao âmago da vida e a habilidade de lá descansar e assistir. O que é realmente doce nunca pode ser vítima do tempo...... Porque doçura é a qualidade da pessoa cuja vida tocou a eternidade. "

(Brahma Kumaris)
 
 

domingo, 24 de outubro de 2010

Olhe come se fosse a primeira vez

 


Sempre olhamos para as coisas com olhos velhos. Você chega em sua casa; você olha pra ela sem olhar pra ela. Você a conhece – não há necessidade de olhar pra ela. Você tem entrado nela de novo e novamente por anos seguidos. Você vai até a porta, você abre a porta, você entra. Mas não há necessidade de olhar.

Todo esse processo continua como um robô, mecanicamente, inconscientemente. Se alguma coisa der errado, somente se sua chave não se encaixar na fechadura, assim você olha pra fechadura. Se a chave funciona, você nunca olha pra fechadura. Por causa dos hábitos mecânicos, fazendo a mesma coisa repetidamente de novo e de novo, você perde a capacidade de olhar; você perde a frescura do olhar.

Relembre a última vez que você olhou para sua esposa. A última vez que você olhou para sua esposa ou para seu marido pode ter sido anos atrás. Por quantos anos você não tem olhado? Você apenas passa, dando uma olhada eventual, mas não um olhar. Vá novamente e olhe para sua esposa ou para seu marido como se você estivesse olhando pela primeira vez. Por quê? Caso você estiver olhando pela primeira vez, seus olhos ficarão cheios com um frescor. Eles ficarão vivos.

Dizem que nada é novo debaixo do céu. Na verdade, nada é velho debaixo do céu. Só os olhos ficam velhos, acostumados às coisas; assim nada é novo. Para as crianças tudo é novo: é por isso que tudo lhes dá excitamento. Até uma pedra colorida na praia, e elas ficam tão excitadas. E tudo é um mundo novo, uma nova dimensão.

Olhe para os olhos das crianças – para o frescor, a vivacidade radiante, a vitalidade. Eles parecem como espelhos, silenciosos, porém penetrantes. Só tais olhos podem alcançar dentro.

Qualquer coisa servirá. Olhe para seus sapatos. Você os tem usado por anos, mas olhe como se fosse pela primeira vez e veja a diferença: a qualidade de sua consciência subitamente muda. Essa técnica é só para tornar seus olhos frescos – tão frescos, vivos, radiantemente vitais, que eles possam mover-se para dentro e você possa dar uma olhada no seu eu interior.

Se você estiver livre do passado e tiver um olhar que possa ver o presente, você irá penetrar na existência. E essa entrada será dobrada: você entrará em tudo, em seu espírito, e você entrará em você mesmo também porque o presente é a porta. Todas as meditações de uma maneira ou de outra tentam conseguir que você viva o presente. Assim essa técnica é uma das mais belas técnicas – e fácil.

Fonte: Osho, em "The Book of Secrets"


Estou abrindo mão de tudo na minha vida que não faz mais sentido, pessoas, coisas, atitudes, conceitos e pré-conceitos. Cortes necessários, muitas vezes doloridos. Aceitamos como inevitáveis ou nem questionamos nossas escolhas. Vivendo uma vida aquém de nossas possibilidades. Criando um circulo vicioso e repetindo
histórias que não nos trazem crescimentos. Fechamos os olhos para as dádivas divinas que nos são oferecidas, porque acreditamos que a felicidade virá como um passe de mágica. Ou desejamos receber esta felicidade sem fazer qualquer esforço ou mudança para sermos merecedores de recebe-las. Queremos fazer negociações com o destino, sem dar nada em troca, desejosos de continuar na confortável ilusão de que a luz entra numa casa de portas fechadas.

~Myriam Valentina~


“Somos assim. Sonhamos o vôo, mas tememos as
alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o vôo só acontece se
houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas.
Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem... viver sem certezas.
Por isso trocam o vôo por gaiolas.As gaiolas são o lugar onde as certezas moram. É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam.
A verdade é o oposto.Os homens preferem as gaiolas ao vôo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas.”
Rubem Alves

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

by Arthur Braginskyb


“... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Excerto de 'De noite'
- Miguel Sousa Tavares
em “Não te deixarei morrer David Crockett"


sábado, 2 de outubro de 2010




Photo by Chema Madoz


A criação de nossa história está ligada aos nosso ancestrais.
Cada criação estará influenciando gerações futuras.
Uma ligação em cadeia colocando peças no quebra cabeça.
Existem momentos em que modificamos estes caminhos para dar início a uma nova história.
Cortando laços com o antigo, com a recriação de aprendizagens e vinculos
Respeitando aquilo que foi vivido por outros e seguindo um roteiro diferente.
Mais rico, mais dinâmico, mais feliz, gerando vida, brotando sementes.
Reescrevendo um novo capítulo, seguindo o desejo da alma.
Algo que estava lá desde o principio.
Manter um foco, um objetivo, não abrindo mão de seu ser mais profundo, de sua dignidade e seu caminho.
Sabendo que a coerência é a única e real forma de se sentir realmente vivo, tendo uma postura de humildade e aceitação diante de suas qualidades e defeitos.
E que ninguém pode preencher o que é de nossa absoluta responsabilidade. Transferir a outro ser humano uma carga de expectativas ou aceitar esta mesma carga é gerar uma onda de infelicidade sem fim.
Aceitar que nem todos compreendem e aceitam seu modo de ser e sentir.
Que a postura que as pessoas mantêm é uma forma de defesa para não ser ferido, que nada tem haver diretamente contigo.
A cada dia em contato com o mundo amadurecemos e aprendemos formas e modo diferentes de vivências.
A maturidade chega quando começamos a perceber que ninguém é responsável por nossa felicidade ou infelicidade. Quando não agimos como crianças mimadas desejando ter controle sobre todos e tudo.
Descobrimos assim a verdadeira liberdade e leveza de ser, vivendo cada amanhecer e anoitecer como únicos.

~Myriam Valentina~

terça-feira, 21 de setembro de 2010


Se está bravo com alguém, e ninguém faz alguma coisa para consertar a situação... Conserte você. Talvez hoje, aquela pessoa ainda queira ser seu amigo, e se você não consertar isto logo, talvez amanhã seja muito tarde. Se está apaixonado por alguém, mas a pessoa não sabe... Diga a ela. Talvez hoje, aquela pessoa também esteja apaixonada por você e se você não falar isto hoje, talvez amanhã seja muito tarde. Se você precisa de um abraço de um amigo... Você deve lhe pedir. Talvez ele precise isto mais que você, e se você não lhe pedir hoje, amanhã pode ser muito tarde. Se você realmente tem amigos, aos quais aprecia... Conte isto a eles. Talvez eles também o apreciem, e se eles partem ou vão embora, talvez amanhã seja muito tarde.
(DA)

Eu acredito que deixar as coisas para manhã, pode ser que este amanhã não exista. Sempre estamos com medo de falar o que sentimos e pensamos  criando fantasmas e nesta criação nem damos oportunidade ao outro  de nos dizer o que sente e pensa. A nossa visão do mundo é completamente diferente das outras pessoas e cada um tem seu modo de ver e sentir situações. O respeito a cada pensamento diferente do nosso é que faz a diferença, e é desta diferença que nosso mundo precisa. Saber que nem sempre vamos ser compreendido faz parte do caminho. Não avaliar o outro sobre nosso ponto de vista, simplesmente senti-lo. Nosso critério de mundo tem haver com nossos aprendizados e nem sempre a nossa verdade é absoluta. Ela geralmente é relativa. Nós colocamos num pedestal e erroneamente vemos apenas uma parte da situação, quando nosso mundo é holográfico e um ser humano tem várias vertentes. Somos possibilidades e como tal diferentes a cada dia.
Myriam Valentina


terça-feira, 10 de agosto de 2010
























Hoje me sinto revoltada após ler notícias chocantes, que
em pleno século XX mulheres são tratadas como mercadorias, usadas, abusadas, assassinadas,
jogadas fora como se fossem lixo e pior com o aval de presidentes, que além de
concordar com esta barbárie, ainda faz em pleno comício eleitoral uma piada sem
propósito e desrespeitosa a respeito do sofrimento destas mulheres. Ser amigo
de ditadores e concordar com este tipo de atitude que vai contra os direitos
humanos nos mostra bem a real realidade de nossa sociedade que se diz civilizada.
No meu entender, soberania não quer dizer que é permitido aos governantes fazerem
o que bem entendem como direito deles. Não existe nenhum valor para as regras
universais que protegem indivíduos de atrocidades?
E vamos vivendo numa era ainda medieval, com costumes bárbaros
e desumanos.
Fechamos os olhos vivendo numa utopia ultrapassada,
acreditando que o mundo é cor de rosa.
Não sou de direita, nem de esquerda ou centro. Não gosto de políticos,
nem de política. Me espanta ver que pessoas que se dizem, cultas, inteligentes,
intelectuais e filosóficas fechem os olhos para uma realidade que esta ai para
qualquer pessoa ver.
Afinal o que somos como sociedade? Cegos disfarçados de humanos
ou cegos humanos apegados ao nosso mundinho, criado em nossas pequenas mentes.


~Myriam Valentina~


quinta-feira, 29 de julho de 2010





Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti.

sábado, 5 de junho de 2010

Flocos de Neve





Eu olho para o céu e vejo a neve invadir a cidade. Os flocos de neve me lembram canções da infância.

A neve muda tudo transformando a cidade num tapete branco como num conto de fadas.

Nestas horas tenho desejo de fazer flocos de neve com os lábios e caminhar no tapete branco deixando minhas pegadas como passos silenciosos de uma dança.

Quero ver a neve sob as luzes e lembrar a beleza destes dias.

Quero congelar e voltar correndo para casa. Colocar meias de lã e deitar sob as cobertas, tomar chocolate quente, assistir um filme ou ler um livro.

Não estou sonhando e vejo na neve algo mais que preto e branco. Aprecio as coisas pelo desejo de criar-las e lhes dar um significado.

Quando não estamos afogados num mar de problemas e resistindo a onda da vida cotidiana, podemos ver fundos brancos e letras, não apenas negro.

Apesar da dor da crueza de palavras ditas sem sentido, sei que após o frio podemos desfrutar do calor quente.

-Myriam Valentina-

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Falácias do Tempo


Ficamos mudos diante da densidade do tempo por medo da solidão.Aceitamos qualquer esmola sentimental e abrimos mão de nossa alma, apenas para nos arrependermos depois com casamentos falidos, relacionamentos caóticos, amizades falsas, tediosas festas e consumismo. Numa hipocrisia por medo de perdemos algo que nos traz insatisfações no dia a dia. Aceitamos chantagens e escravizados dizemos meias palavras e meias verdades. Complacentes ficamos diante da realidade com os olhos vendados na esperança, que o campo há muito minado, desapareça como num conto de fadas.

Por que esta necessidade louca de buscar companhia para preencher espaços vazios criados na nossa mente? Se alguns ladrilhos estão soltos tentamos colar com falácias de felicidade e bem-aventurança.

Em que consiste está solidão senão na nossa necessidade de nos apegarmos a um estado paradisíaco passageiro. Acompanhados ficamos sozinhos. E sozinhos não agüentamos a dor de não sermos perfeitos. Prisões com grades de falso ouro. Sentimentos falsos para que nos vejam somente como flores perfumadas.

Romper com estruturas que nos torna dependentes, rancorosos e frágeis, talvez seja o verdadeiro caminho para liberdade. Viajar por nosso mundo interior com a sensação maravilhosa e quente que estamos aqui por escolha, imersos não numa fantasia de como deveríamos ser, mas aprendendo a lidar com nosso imperfeito eu, respeitando quem fomos e quem somos independente da idéia de quem deveríamos ser.


-Myriam Valentina-





Reflexo


Parados em frente ao espelho vemos a ilusão de nossa imagem.

Quando andamos pelas ruas, o olhar de um estranho provavelmente passa além daquilo que pensamos ser. Um estranho entregue a seus pensamentos, como nos entregues aos nossos próprios pensamentos. Vemos apenas através de corpos que nenhum sentido tem para nossa visão que consideramos externa.

À distância em relação ao outro se torna maior quando compreendemos que o outro, estranho ou não, nos vê com seus próprios olhos. Vemos as pessoas como gostaríamos que fossem com uma grande expectativa de transformá-las naquilo que seria um pedaço de nós mesmos.

Não alcançamos nem uma parte da verdade com nossas fantasias de nos acharmos e nos interiorizarmos no outro. Tornamos-nos inseguros, desejosos que sejamos especiais e insubstituíveis aos olhos do outro.

Esta imagem refletida e imaginada cria uma distorção e uma miragem acumulando frustrações desnecessárias. Por que incorporar uma imagem dentro de um olhar para aceitarmos a nós mesmo? Uma máscara lapidada dia a dia, visualizada apenas por nossos próprios desejos.


-Myriam Valentina-


Sutilezas



Será que precisamos de um ano ou mais para descobrimos a duração do tempo?

Acordamos como se nunca tivéssemos realmente experimentado a vida.

Será que tudo é tão breve como queremos acreditar?

Ou tudo não passa de uma desculpa para estarmos buscando algo num futuro que nem sabemos se vai existir.

Mas como viver no agora como apregoam tantos gurus de auto ajuda, se somos nosso passado, presente e suposto futuro. Acho que é um inútil exercício de auto controle sem muito sentido.

É como fechar os olhos para quem fomos, somos e seremos. Vivemos como se existisse uma irrevogabilidade, uma perenidade, só lamentos e tristezas. E não é isto que interessa a vida.

Se no nosso conceito o tempo foi desperdiçado, mesmo isto não é garantia de desperdício, podemos achar que o certo é estarmos o tempo todo fazendo algo para nos sentir vivos, quando na realidade podemos apenas nada fazer e estarmos apenas conscientes.

O que podemos fazer por nós, senão, respeitarmos que vivemos como sabemos ou aprendemos. Mais cedo ou mais tarde, criativos que somos saberemos que de alguma forma, tudo foi apenas um exercício para o conhecimento da vida, de nós mesmo, do mundo e das sutilezas de todos nossos relacionamentos.


-Myriam Valentina-